Remédios para emagrecer: essa opção vale a pena?

Perder peso rapidamente é o sonho de muita gente. Mas como chegar a esse resultado? De acordo com profissionais ligados à saúde, combinar alimentação e hábitos saudáveis com exercícios físicos é o melhor caminho. Mas isso requer determinação e disciplina, e em tempos de internet, somos inundados diariamente com informações tentadoras ligadas ao tema - dietas novas, receitas milagrosas, chás que “secam” a barriga e tantas outras dicas no mínimo duvidosas. E em meio a isso tudo, surgem os remédios que prometem a perda rápida de peso. Mas essa opção vale a pena?

Para compreender melhor a questão, conversamos com o nutricionista Gustavo Bortolini sobre os prós e contras ligados ao uso de uma dessas medicações, indicada para tratamento da diabetes tipo 2, mas que começou a ser amplamente utilizada para fins estéticos, visto que um de seus efeitos está relacionado com a perda de peso. Acompanhe a entrevista:

NBE: Nos últimos anos, uma medicação específica indicada para o tratamento de diabetes tipo 2 tem sido muito utilizada (inclusive de forma indiscriminada) para fins estéticos, uma vez que a perda de peso é um de seus efeitos. Qual sua opinião sobre essa questão?

Gustavo Bortolini: “O uso indiscriminado de medicamentos que potencializam o emagrecimento por pessoas que não têm diabetes tipo 2 ou outras indicações médicas claras pode ser perigoso. A medicação pode causar efeitos colaterais significativos, como náuseas, vômitos, diarreia e pancreatite. O uso sem supervisão médica aumenta o risco de complicações.

A pressão social e estética em que vivemos hoje, juntamente com a promoção de fármacos para emagrecimento pode reforçar ideais de beleza pouco realistas e a pressão para atingir certos padrões de corpo, muitas vezes negligenciando a saúde geral e o bem-estar mental.

Portanto, a utilização de medicamentos para emagrecimento deve ser cuidadosamente avaliada e sempre supervisionada por um profissional de saúde. Embora existam benefícios potenciais, os riscos e efeitos colaterais não podem ser ignorados. É crucial que esse tipo de substância seja reservada para aqueles que realmente necessitam dela para fins médicos, e não como uma solução rápida para perda de peso”.

NBE: Como essa medicação atua no organismo? Quais os prós e contras, a seu ver?

GB: “Essa medicação pode ser classificada como um agonista do receptor do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), agindo na estimulação da secreção de insulina pelas células beta do pâncreas em resposta à ingestão de alimentos, ajudando a reduzir os níveis de glicose no sangue após as refeições e inibindo a liberação de glucagon pelas células alfa do pâncreas.

O glucagon é um hormônio que aumenta os níveis de glicose no sangue, então sua supressão ajuda a diminuir a glicemia, além de causar o retardamento do esvaziamento gástrico, prolongando a sensação de saciedade e reduzindo a ingestão de alimentos. Também tem ação no sistema nervoso central, especificamente nos centros de controle do apetite, ajudando a diminuir a sensação de fome e promovendo a saciedade.

Na minha opinião, a utilização deste medicamento em específico deve ser realizada de maneira cautelosa. Apesar de promover uma perda de peso de forma rápida, devemos lembrar que promover uma abordagem integrada para o manejo do peso, que inclua mudanças no estilo de vida e suporte médico, é essencial para alcançar resultados duradouros e saudáveis. A medicação pode ser uma ferramenta útil, mas não deve ser vista como uma solução única para a perda de peso.”

NBE: Na sua opinião, vale fazer uso dessa medicação em quais situações e por quanto tempo?

GB: “A duração do uso deste medicamento deve ser determinada individualmente, considerando a resposta ao tratamento e a presença de efeitos colaterais. Devemos sempre lembrar que a utilização dessa substância é ferramenta eficaz para controle glicêmico e perda de peso em pacientes adequados, mas seu uso deve ser cuidadosamente monitorado e ajustado conforme necessário. A decisão de usar essa medicação, bem como a duração do tratamento, deve ser baseada em uma avaliação completa do estado de saúde do paciente e feita em colaboração com um profissional de saúde”.

NBE: Recentemente, uma marca conhecida de produtos alimentícios criou uma linha voltada especialmente para pessoas que fazem uso desse medicamento. Qual sua opinião a respeito desse fato?

GB: “Vejo como um incentivo ao uso indiscriminado desse fármaco, pois ao associar alimentos a um medicamento específico para perda de peso, pode-se promover a intensificação da sua utilização para questões estéticas - sendo que o correto seria focar no tratamento médico adequado e na supervisão. Mas infelizmente vivemos em um mundo onde a popularidade de uma medicação é sinônimo de oportunidade de lucrar dinheiro”.