COP 28, das mudanças climáticas às mudanças de comportamento
Os olhos da humanidade estão voltados para a Conferência da ONU enquanto amargamos uma série de eventos climáticos extremos
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De 30 de novembro a 12 de dezembro, acontece em Dubai, nos Emirados Árabes, a 28ª Conferência de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU).
O Brasil participa com a maior comitiva já enviada a uma Conferência das Partes (COP) com 2,4 mil brasileiros inscritos, dos quais cerca de 400 são representantes do governo.
Divulgação COP 28
Dados
O Brasil chega à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) ostentando uma redução de 22% no desmatamento na Amazônia no último ano. Por outro lado, não deverá apresentar os dado do bioma Cerrado, que pede socorro contra um desmatamento recorde. Ainda paradoxo: no Rio Grande do Sul ainda se discute a continuidade da exploração de carvão mineral e se especula a exploração de petróleo na foz do Amazônia. Carvão e petróleo são combustíveis fósseis cujas emissões estão no centro das causas do aquecimento global.
A COP 28 deverá avaliar o cumprimento do Acordo de Paris de 2015 definido pelos 196 países presentes, cuja meta na época era manter até 2025 o aumento da temperatura global a menos de 2ºC (em relação aos níveis pré-Revolução industrial), além de várias outras metas.
Mas não são nem necessários dados estatísticos para entender que as metas não foram cumpridas. Até mesmo os chamados “negacionistas do clima” estão sendo atingidos de alguma forma pelos recentes e impactantes eventos climáticos.
O aquecimento global vem servindo para mostrar que a terra é redonda e atua como um sistema fechado. A chuva que cai implacavelmente no Sul do país é a mesma que falta para os rios da Amazônia. O mundo inteiro sofre com as mudanças climáticas mas ainda insiste em seguir nas mesmas formas de produção e consumo autodestrutivas.
Thales Renato Ferreira/PMSL
Com a palavra: Leonardo Boff
O filósofo e teólogo Leonardo Boff domina como poucos as questões ambientais. O tema Ecologia é frequente em dezenas de seus livros e ele se destacou também internacionalmente como o representante da América Latina na elaboração da Carta da Terra, documento mundial publicado no ano 2000 que ficou conhecido como A Carta dos Povos.
Segundo ele, o aquecimento global é uma consequência do processo do industrialismo mundial, que se deu na forma de capitalismo no ocidente e do socialismo na Rússia e no Oriente com um mesmo método que promove um assalto sistemático aos bens e serviços da natureza, dizimando grande parte dos ecossistemas.
O Planeta não suporta este projeto da modernidade que é de crescimento ilimitado. A Terra responde mandando mais calor, tempestades, vírus, doenças e as próprias guerras sociais, porque Terra e humanidade formam uma unidade. Esta é maneira como a Terra reage a esta guerra que estamos impondo contra ela, a qual não temos nenhuma chance de vencer. Este é o problema que a maioria dos chefes de estado e diretores de grandes empresas não aceitam. Porque se aceitassem deveriam mudar o modo de produção, consumo e de distribuição. Deviam mudar todos os hábitos da forma como habitamos a Terra, respeitando os limites dela e produzindo dentro destes limites. Não produzindo para acumulação, mas para atender às demandas humanas com decência e suficiência para todos.
Para Leonardo Boff, quem está ameaçando a vida na Terra não é um meteoro rasante, mas o próprio ser humano na forma como se relaciona com a natureza.
Nós criamos o Antropoceno (o ser humano no centro de tudo). Passamos para o Necroceno com a morte sistemática e massiva de seres vivos. E há dois anos passamos para o Piroceno (fogo). Em muitas partes do Planeta o fogo tomou conta, seja ele produzido pelo ser humano ou pela própria natureza. Os cientistas dizem que chegamos à forma mais perigosa de ameaça à vida na Terra (que inclusive está na Bíblia). Vivemos um alarme ecológico. Temos que pensar se queremos seguir adiante da forma como estamos vivendo e engrossar a posição daqueles que vão na direção da própria sepultura. Ou, então mudamos para uma vida mais respeitosa com a natureza, um consumo mais moderado acessível, suficiente e decente para todos. E não só para nós seres humanos, porque não devemos ser antropocêntricos, mas para toda a comunidade de vida, incluindo as plantas e animais que também precisam.
Conforme o teólogo, este é um desafio grave que nunca houve antes na história da humanidade. “Há uma falta de consciência global sobre isto. Talvez a gente só venha a tomar consciência a partir de um grande desastre”, alerta, mas, ao mesmo tempo, sempre lança a esperança de que podemos mudar os rumos e norteia os caminhos. o
A esperança tem duas irmãs: a indignação e a coragem. Além da esperança temos que cultivar a solidariedade. Foi a solidariedade que permitiu o salto da animalidade para a humanidade. O amor é o centro de toda a vida e a solidariedade está dentro do amor.