Salvar o Pampa, Urgente!
29,5% da vegetação original desapareceram nas últimas 4 décadas
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Estamos vivendo graves crises socioambientais nunca vistas. Desigualdades sociais estarrecedoras, mudanças climáticas exponenciais, perda de biodiversidade dramática, poluição crescente... Crise ou pré-colapso sistêmico?
Por outro lado, do lado oposto à degradação, há um punhado de gente resistindo e resgatando a sociobiodiversidade e os modos de vida locais., despegados do modelo econômico dominante de transformação do Planeta numa “fábrica de negócios” para poucos.
No que se refere à biodiversidade, um conjunto de especialistas (IPBES/ONU, 2019[1]) estima que 1 (um) milhão de espécies estejam em ameaça de extinção no mundo.
No Rio Grande do Sul, segundo decretos estaduais de 2014, 1.084 espécies sofrem ameaça de extinção es (804 de flora e 280 de fauna).
Neste Estado, ocorrem também os dois biomas brasileiros com maior percentual de perda de remanescentes naturais, no caso da Mata Atlântica e Pampa, onde restam, respectivamente, 12% e 43% da área original (1/4 de campos secundários ou antropizados, que tiveram sua cobertura original modificada).
O Pampa está restrito ao estado do Rio Grande do Sul, ocupando 194 mil km2 (IBGE, 2019), correspondendo a quase 70% do território estadual (metade sul e parte do noroeste) e 2,3% do território brasileiro.
Infelizmente, é o bioma brasileiro com menor percentual de Unidades de Conservação (3%) e o que mais perdeu, proporcionalmente, sua cobertura de vegetação nativa, entre 1985 e 2021.
Em 37 anos, perderam-se 3,4 milhões de hectares, ou seja, 29,5% de sua vegetação original, principalmente campos nativos, para dar lugar à agricultura convencional, à silvicultura com seus gigantescos desertos verdes de eucalipto ou de pinus, a mineração, entre outras atividades.
Esta conversão (perda do bioma) alcança uma média de 157 mil hectares/ano, desde 2010, atingindo o equivalente a 70 vezes a área do município de Porto Alegre (Mapbiomas, 2022)[2]. Por outro lado, a área de silvicultura no Pampa, que era de 43 mil hectares, em 1985, saltou para 745 mil hectares em 2021, representando um aumento de 1.641% em 37 anos.
A riqueza em geodiversidade e sociobiodiversidade no Pampa é bastante destacada, com dezenas de monumentos naturais, principalmente na Serra do Sudeste, incluindo a existência de milhares de espécies de flora e fauna.
Biopirataria
Cerca de 2 mil plantas ocorrem em campos e outros ambientes não florestais. Centenas de espécies de vegetais nativos (medicinais, ornamentais, forrageiras e frutíferas) são levados para outros países, em forma de biopirataria, gerando renda lá fora. Destacamos alguns exemplos como a espinheira-santa, as petúnias, as verbenas, o butiazeiro e o araçá.
Em novembro começam a florescer, nos campos próximos às beiras de estradas, as verbenas-roxas-compridas, de nome científico Verbena bonariensis, uma planta ornamental originária do Pampa e dos Campos Sulinos, incluindo Argentina e Uruguai.
Alvo de biopirataria de plantas ornamentais, é usada principalmente na Europa EUA e Austrália. Há poucos anos, tivemos a oportunidade de encontrá-la em Amsterdã, Holanda, em vasos dependurados junto às pontes dos canais típicos daquela linda cidade, junto com petúnias também dos nossos Campos Sulinos.
Por aqui, nem mudas destas plantas temos.
A riqueza natural e a cultura diversa e os modos de vida tradicionais, em grande parte ligados à pecuária familiar, são sustentáveis, mas desconhecidos pela sociedade e também por parte dos agentes públicos e econômicos. O turismo rural e de aventura, sempre com base familiar ou em pequenos empreendimentos locais junto às belas paisagens e vegetação do Pampa, poderiam gerar renda (mel, geleias, artesanato, lãs naturais, etc.) e melhor qualidade de vida do que os desertos de soja e eucalipto para exportação de grãos e fardos de celulose.
Acreditamos que se a sociedade tiver melhor conhecimento deste patrimônio, poderá forçar políticas públicas mais sustentáveis do ponto de vista socioambiental (pesquisas e apoios a pequenos empreendimentos), mantendo a diversidade tão necessária à qualidade ambiental e à economia.
*Paulo Brack - é biólogo, mestre em Botânica, doutor em Ecologia professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Saiba mais
Saiba mais sobre os eventos que debatem o Dia do Pampa https://www.nossobemestar.com/agenda/dezembro-tem-dia-do-pampa/