De onde vem a solidariedade humana?

O primeiro passo para a solidariedade é a empatia, que permite tentar experimentar de forma objetiva e racional o que o outro sente

Redação NBE

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04/06/2024
De onde vem a solidariedade humana? Freepik/NBE

4 min de leitura

O que se viu no Rio Grande do Sul desde o início de maio de 2024 ficará na história não apenas pela tragédia climática, mas também pelas incontáveis e incomparáveis manifestações de solidariedade.

O que se viu aqueceu os corações de todos. Foi bonito doar, foi bonito receber. Participar deste momento da nossa história vai ficar na memória e acendeu a esperança de que podemos ser seres humanos melhores.

“A solidariedade nos torna mais humanos” declaramos e incentivamos pelas Redes de Mídias do Nosso Bem Estar. Neste momento de reconstrução pós tragédia, é natural que muitas pessoas estejam tentando voltar para suas rotinas, mas o “estado de coisas” ainda vai exigir esta prática de solidariedade por muito tempo.

Mas, o que leva as pessoas a terem atitudes solidárias? Fomos pesquisar* e encontramos algumas interpretações interessantes que abordam o tema sob os pontos de vista filosófico e psicológico.

Perspectivas sobre a solidariedade

O professor de Filosofia do Instituto Federal da Paraíba, Emmanoel de Almeida, esclarece que na filosofia ocidental há duas perspectivas: uma de que a solidariedade é inata e a outra de que é um princípio criado pela própria sociedade.

Essa última perspectiva também é compartilhada pela Psicologia que credita à influência social, as atitudes de solidariedade, como explica a psicóloga Dayse Ayres. “No que se refere a solidariedade, há na natureza humana uma necessidade de ser bem visto pelos outros, de pertencimento a grupo ou sociedade, de conexão e busca por aceitação externa”.

De forma geral, entendemos que o primeiro passo para a solidariedade é a empatia, que segundo Dayse, é o ato de “tentar ‘experimentar’ de forma objetiva e racional o que o outro sente. Em outras palavras, tentar “se colocar” no lugar do outro de maneira a se sensibilizar com sua dor (se este for o caso)”. A psicóloga reforça que a empatia sempre vai estar relacionada à visão de mundo, experiências de vida e traços de personalidade de cada pessoa.

Esse movimento interno de se colocar no lugar do outro provoca a solidariedade, que se concretiza na ação de tentar ajudar, amenizar ou diminuir a dor ou necessidade de alguém. A atitude solidária é a “doação de si e um desprendimento, seja de ordem afetiva/emocional ou material. E uma forma de exercitar a empatia e tentar manter o olhar de afeto sobre as necessidades de outras pessoas”, reforça Dayse.

Já do ponto de vista filosófico, o professor Emmanoel de Almeida destaca que a solidariedade transpõe o instinto de sobrevivência. “A história acumula muitos exemplos de ações humanas que desafiam e transcendem a lógica do instinto animal, que também possuímos. Diferente da lógica comum à natureza selvagem dos animais, há seres humanos que conseguem privar-se de um benefício vital para garantir a vida do outro que ama”.

Voluntários carregando caixas de transporte com animais durante enchente

Imagem: Agência Brasil

Sempre o amor

Para o docente, o amor seria uma das formas da experiência humana que desafia a lógica determinista de uma vida dedicada apenas à sobrevivência. “As filosofias de Platão e Aristóteles nos lembram que somos sujeitos políticos. Ser político é ser com os outros na cidade (pólis) e compartilhar com eles os esforços necessários para que todos possam ser felizes conjuntamente”, comenta Emmanoel.

De acordo com o docente, a solidariedade pode ser percebida como o exercício que busca melhorar a vida em sociedade e, assim, reforça a ideia de que ninguém é autossuficiente e todos precisam uns dos outros.

Lembrando Aristóteles, o docente esclarece que a solidariedade não é uma virtude moral inata e há a ideia de que ela pode e deve ser aprendida. “Do mesmo modo como nos tornamos arquitetos cada vez melhores ao exercitarmos mais e mais a arquitetura, e nos tornamos bons professores, a cada nova experiência de ensino, só podemos nos tornar mais solidários quando nos dispusermos a exercitar essa virtude aprendida, alcançando o outro com um gesto concreto”.

Já na perspectiva que acredita na solidariedade como parte da essência humana, as ações solidárias são a concretização daquilo que constitui a própria humanidade. “Em ambos os casos, revela-se uma questão ética, cuja base está no pensamento de Immanuel Kant e expressa uma famosa máxima atribuída a Jesus: fazer para os outros o mesmo que gostaria de ver os outros fazerem para si”, conclui Emmanoel.

*Com informações do Instituto Federal da Paraíba

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