Contribuições para mudar a cultura no trânsito
Programa do Instituto Elisabetha Randon promove ações para um trânsito mais humano
4 min de leitura
Os dados sobre o trânsito são alarmantes. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que o Brasil tenha 45 mil mortes por ano em acidentes de trânsito. O país está entre os quatro que mais matam no trânsito em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para os cofres públicos, as consequências dos acidentes de trânsito têm um custo de R$ 50 bilhões/ano, que poderiam ser investidos em áreas mais importantes, como saúde e educação, por exemplo.
As estatísticas revelam um cenário ainda mais preocupante em relação às motocicletas. As mortes nesse tipo de veículo dobraram na última década, representando 30% dos casos fatais registrados em 2023. O estudo do Ipea aponta imprudência, excesso de velocidade e uso de álcool como os principais fatores que contribuem para os acidentes.
Na multinacional gaúcha Randoncorp, cuja história de mais de 75 anos está intrinsecamente ligada ao trânsito através da fabricação de semirreboques e insumos para a indústria automotiva, o alarme da necessidade de agir soou em 2010, quando lançou o programa Vida Sempre, através do seu Instituto Elisabetha Randon (IER). Mas como se mover, contribuindo para mudar uma realidade que aponta o trânsito brasileiro como uma das guerras que mais mata no mundo?
A gestão do IER resolveu dar a largada pelo olhar da ciência e promoveu uma palestra para os gestores da empresa com o antropólogo e especialista em sociologia do trânsito Roberto DaMatta.
DaMatta vem se empenhando em traduzir as influências históricas da formação da sociedade brasileira no comportamento dos motoristas. Seus estudos de mais de três décadas sobre o tema resultaram no livro Fé em Deus e pé na Tábua – ou como e por que o trânsito enlouquece no Brasil.
Segundo o antropólogo, o trânsito obriga a uma igualdade para a qual não fomos preparados e revela que “somos alérgicos a situações igualitárias”. Ele explica que o trânsito reflete a cultura brasileira de uma sociedade marcada por sua origem e formação político-social hierarquizadas que ainda não foi politizada. Assim, o comportamento dos motoristas tem a cultura de “todo mundo tem de sair da minha frente, porque sou mais importante”, especialmente nas metrópoles onde a impessoalidade é maior entre os cidadãos.
Em seu livro, DaMatta orienta que os programas de educação/preparação para o trânsito precisam estar centrados numa elaboração da “igualdade como valor e princípio básico da democracia. Ensinar que, na rua, todos são iguais perante a lei e que, no trânsito, a desobediência às regras cria uma punição maior do que a do Estado e da Lei, pois geralmente promove morte, além de perdas materiais e morais – quase sempre incalculáveis”.
Trânsito mais humanizado
Após promover ações para a conscientização dos gestores, o Programa Vida Sempre partiu para estratégias práticas que resultassem num trânsito mais humanizado.
A “Educação para o Trânsito” foi validada como linha de investimento social da Randoncorp. Diversas ações foram adotadas como apoio ao Centro de Treinamento e Qualificação de Motoristas de Caminhão (CENTRONOR), parceria com o Observatório Nacional de Segurança Viária, promoção de cursos de qualificação para motoristas com foco em Direção Econômica e Segura, participação em campanhas e ações educativas junto a escolas (crianças e adolescentes), além de esquetes teatrais para público infantil, juvenil, motoristas em geral e motociclistas.
“É fato que a guerra do trânsito no Brasil mata mais do que muitas guerras no mundo. Para um trânsito mais seguro, é necessário trazer à tona a igualdade como valor. Acreditamos que podemos somar para promover um trânsito mais humanizado. Embora não se tenha dados quantitativos sobre os resultados deste nosso trabalho, não temos dúvida sobre os benefícios”, pontua a coordenadora de responsabilidade social do Instituto Elisabetha Randon, Jeanine Pacholski, destacando que 77 mil motoristas/ano são atingidos diretamente pelas ações do Vida Sempre. Saiba mais sobre o programa Vida Sempre aqui.
Uso do celular
Em 2024, o programa Vida Sempre se alinhou à campanha do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), para conscientizar sobre os riscos de usar o celular enquanto transitamos, seja a pé, de bicicleta, de motocicleta ou num veículo.
Conforme a campanha, o celular é hoje considerado o motivo principal da distração no trânsito. Isto porque o celular distrai motoristas e pedestres e tira a mais importante função que precisamos para transitar: a atenção em tudo o que está acontecendo ao redor ou pelo caminho.
Estudos mundiais apontam que, o uso do celular em trânsito aumenta em até 400 vezes o risco de um sinistro. A Polícia Rodoviária Federal registrou 67.723 sinistros em 2023 nas rodovias federais do país. Desses, 28% tiveram como causa, o uso do celular ou uma reação tardia ou nula do condutor.