A história da agricultura biodinâmica
Há 40 anos no Brasil, a agricultura biodinâmica já formou várias gerações de agricultores
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A Agricultura Biodinâmica é praticada em mais de 60 países e é referência em serviços para o meio ambiente e alimentação saudável. Os produtos biodinâmicos são uniformemente comercializados sob a marca DEMÉTER, sinônimo de uma cultura agrícola baseada em medidas novas nos campos culturais/espirituais, políticos/legais, econômicos e ecológicos.
A origem da Agricultura Biodinâmica advém do fundador da Antroposofia - Rudolf Steiner (1861-1925), que, em 1924, na Polônia, lançou a pedra fundamental espiritual do Movimento Biodinâmico, através de um ciclo de oito palestras para agricultores intituladas “Fundamentos espirituais para a renovação da agricultura”.
Surgia assim o primeiro movimento de agricultura alternativo organizado no Ocidente, antes da agricultura orgânica e natural.
Rudolf Steiner era um cientista austro-húngaro, que estabeleceu as bases científicas para o desenvolvimento da ciência do espírito ou antroposofia. A partir disto surgiram a agricultura biodinâmica, a medicina e a farmacologia antroposóficas, a pedagogia Waldorf, dentre outras.
Rudolf Steiner -Wikipédia – Autor desconhecido
Antroposofia
A antroposofia não é uma religião, mas uma ciência que permite a construção de um conhecimento que integra matéria e espírito. Para Steiner, o pensar é o elo entre o homem e a realidade espiritual, berço da liberdade.
Conforme o site da Associação Antroposófica do Brasil, a Biodinâmica quer lembrar todos os seres humanos que “A agricultura é o fundamento de toda cultura, ela tem algo a ver com todos”.
“O ponto central da Agricultura Biodinâmica é o ser humano que conclui a criação a partir de suas intenções espirituais baseadas numa verdadeira cognição da natureza. Ele quer transformar sua fazenda ou sítio em um organismo em si, concluso e maximamente diversificado; um organismo do qual a partir de si mesmo for capaz de produzir uma renovação. O sítio natural deve ser elevado a uma espécie de individualidade agrícola”
O fundamento para tal é a integração de todos os elementos ambientais agrícolas, tais como culturas do campo e da horta, pastos, fruticulturas e outras culturas permanentes, florestas, sebes e capões arbustivos, mananciais hídricos e várzeas etc. Caso o organismo agrícola ordene-se em torno desses elementos, nasce uma fertilidade permanente e atinge-se a saúde do solo, das plantas, dos animais e dos seres humanos.
Cultivo de bananas em Luís Alves /SC – Site ABDSul
Adubação
Rudolf Steiner descreveu o solo como o órgão digestivo de uma planta, indicando que a agricultura deveria se concentrar em nutrir o solo e não a própria planta, pois somente no solo vital, os alimentos podem crescer harmoniosamente.
Adubar na biodinâmica significa, portanto, aviventar ou vivificar o solo e não simplesmente fornecer nutrientes para as plantas. A grande preocupação que devemos ter é o que fazer para que isso aconteça. Nesse caso é possível abster-se de muito do que hoje em dia parece ser imprescindível. Na Agricultura Biodinâmica não se usam adubos nitrogenados minerais, pesticidas sintéticos, herbicidas, hormônios de crescimento etc.
Para adubar, são elaborados preparados que incrementam e dinamizam a capacidade intrínseca da planta a ser produtora de nutrientes, seja por mobilização química, transmutação ou transubstanciação do mineral morto, ou por harmonização e adequação na reciclagem das sobras da biomassa produzida.
Esses preparados apoiam a planta a ser transmissora, receptor e acumulador do intercâmbio da Terra com o Cosmo.
Preparado chifre-esterco – Site ABDSul
A concepção do melhoramento biodinâmico dos cultivares ou das raças está em irrestrita oposição à tecnologia transgênica. A ração para os animais é produzida no próprio sítio ou fazenda e a quantidade dos animais mantidos está em relação com a capacidade natural da área ocupada.
O agricultor biodinâmico aprende, dentro do processo de trabalho, a ser ele mesmo um pesquisador, aprende a participar e transmitir sua experiência a outros e a estabelecer dentro do seu estabelecimento um local de formação profissionalizante para gerações vindouras.
Esse impulso quer devolver à agricultura sua força original criadora e fomentadora cultural e social, força que ela perdeu no caminho da industrialização direcionada à monocultura e da criação em massa de animais fora do seu ambiente natural.
A Agricultura Biodinâmica quer ajudar aqueles que lidam no campo a vencer a unilateralidade materialista na concepção da natureza, para que eles possam, cada um por si mesmo, achar uma relação espiritual/ética com o solo, com as plantas e os animais e com os coirmãos humanos.
No Brasil
A Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica é a primeira ONG entidade do sudeste do Brasil atuando no desenvolvimento da agricultura biodinâmica, orgânica e agroecologia há 40 anos junto a agricultores familiares, assentamentos de reforma agrária e populações tradicionais através de ATER, SPG e rede de sementes crioulas.
A sede em Botucatu onde está o sítio escola numa área de 4,5 ha cedido em comodato, é uma referência nacional e internacional, recebendo visitantes e sendo fonte de formação de inúmeros estagiários.
A área original, degradada e sem mananciais, havia sido um pasto, tendo sido recuperada pela ABD ao ponto de apresentar atualmente uma rica biodiversidade de aves e mamíferos ameaçados de extinção como o tamanduá bandeira, a lontra, o gato mourisco, o lobo Guará e outros animais. Onde não havia água, hoje brota uma fonte que desagua em um rio Pardo com importante contribuição para a hidrografia da região.
A Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica (ABD) está atualmente diante de um impasse com risco de perder a área tradicional de sua sede. O ator global Marcos Palmeira, conhecido por sua militância em defesa da agricultura orgânica - da qual também é produtor – é um dos que se manifestou em defesa da entidade.
Uma PETIÇÃO PÚBLICA está sendo divulgada, informando sobe o caso e conclamando amigos e parceiros a defender a Associação Biodinâmica.
Fonte: Instituto Rudolf Steiner