Mostra reúne joalheria e artesanato Mbyá Guarani
Diálogo inédito entre joalheria, escultura e o artesanato Mbyá Guarani reúne 33 obras apresentadas no Parque Farroupilha, em Porto Alegre

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Joalheiro e escultor Cesar Cony e um grupo de artesãos e artesãs da aldeia Tekoá Jataí'ty mesclam pedras preciosas, prata, esculturas de animais em madeiras de erva-mate e corticeira, fibras de taquara, latão e ferro em exposição que surpreende pela proposta de intervenções recíprocas e pela busca da comunicação entre memória e artes visuais
Mostra Mbyá Guarani, estamos aqui! reúne 33 obras em tenda instalada no Parque Farroupilha. Inédita no Brasil e marcada pela originalidade, a produção coletiva entre o escultor e joalheiro Cesar Cony e artesãos e artesãs da aldeia Tekoá Jataí'ty estará aberta ao público de 5 a 20 de abril, das 9h às 17h, em uma tenda criada especialmente para a mostra no Parque Farroupilha, em Porto Alegre. A abertura oficial acontece no dia 5 de abril (sábado), às 10h, com a presença do coral de crianças da aldeia Tekoá Jataí´ty.
A mostra apresenta esculturas de animais esculpidas em madeira de erva-mate e corticeira pelos artesãos da aldeia –– são águias, jacarés, tucanos, onças, tamanduás, passarinhos, corujas e capivaras em diversos tamanhos. Cony aplicou as técnicas da joalheria, fazendo delicadas intervenções com detalhes em prata, pedras de rubi, ametista, topázio azul, turquesa, turmalina rosa, citrino, zircônia, crisoprásio, rubelita, peridoto e latão envernizado.
E o diálogo não para por aí. Uma estrutura de ferro de três metros de comprimento foi desenvolvida por Cony e tramada com taquara pelo artesão Vherá xunú (Cornélio Gimenez da Silva) para representar a cobra, animal que surge para mostrar a importância de estarmos atentos ao nosso caminho, para escolhermos com sabedoria onde pisamos. O artista também irá apresentar uma coleção de joias em prata formada por 15 peças inspiradas nas obras que compõem a mostra. Os brincos, por exemplo, reproduzem ramos de taquara, material tradicional na produção das cestarias.
Segundo os artesãos, o artesanato Guarani representa a conexão natureza e espiritualidade, revelando uma crença e uma cadeia de sabedoria, mas essa compreensão ainda não foi assimilada pela sociedade.
“Fora do território da aldeia o artesanato indígena não é visto por sua potência criativa e espiritual, somente como mero souvenir. Despertar uma nova percepção sobre a cultura dos povos indígenas é o objetivo deste projeto construído ao longo de um ano", diz Cony.
"Os animais têm um papel protetor em nossas vidas, uma conexão espiritual e simbólica, como ensinado por nossos antepassados. A representação dos bichos em madeira é um meio de preservação e de manter essa relação", explica Vherá guyra (Jaime Valdir da Silva), presença-chave no projeto coletivo.
O Projeto foi realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022, Lei Paulo Gustavo. Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Secretaria da Cultura. Ministério da Cultura. Governo Federal.
A mostra também se propõe a impulsionar a geração de renda para a comunidade indígena. Cinquenta por cento do valor arrecadado com a comercialização das obras será destinada aos artesãos participantes, e, durante os finais de semana, estará disponível um espaço para venda de outras peças em madeira, cestarias, colares e pulseiras feitas pelas mulheres.
Após a temporada em Porto Alegre, Mbyá Guarani, estamos aqui! será exibida de 24 de abril a 18 de maio no Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, em Caxias do Sul, levando adiante a valorização da arte e da cultura dos povos Guarani.
Sobre Cesar Cony
Autodidata, há mais de 40 anos, o joalheiro e escultor se dedica a fundir, laminar e dar forma a metais nobres, gemas e materiais alternativos. O resultado do processo de produção é uma estética com forte componente tridimensional e de diálogo com diferentes culturas.
Nascido em Porto Alegre, em 1981 começou a produção com metais e, no ano seguinte, foi um dos fundadores do Brique da Redenção, espaço de arte e cultura reconhecido como patrimônio cultural do Estado. No ano de 1995, criou a Escola Gaúcha de Joalheria, em Porto Alegre, influenciando uma nova geração de autores de joias no Estado.
Entre os projetos já desenvolvidos pelo joalheiro, estão: "Joias da Imigração" – fragmentos de objetos produzidos por imigrantes italianos foram transformados em joias-esculturas, a escultura gigante Ferro e Dressa, elaborada com cerca de 500 quilos de ferro e mais de 2 mil metros de dressas, materiais utilizados no trabalho diário dos imigrantes italianos. E a coleção intitulada "Nó: Joias da Imigração II" – esculturas sobre suportes de nó de pinho
Os Mbyá Guarani
Os Guarani formam um conjunto de populações de matriz cultural Tupi, especificamente vinculados aos povos Tupi-Guarani.
Os Guarani atuais dividem-se em três etnias: Mbyá, Ñandeva e Kaiowá. De acordo com o site “Povos Indígenas do Brasil”, os grupos indígenas Guarani que se identificam como Mbyá, estão atualmente distribuídos pelos Estados de ES, PA, PR, RJ, RS, SC, SP, TO, totalizando cerca de 7 mil pessoas.
A aldeia Tekoá Jataí’ty - Localizada na zona rural de Viamão, a Reserva Indígena Cantagalo, onde está a aldeia Tekoá Jataí’ty ou Aldeia do Butiazeiro, como é conhecida, tem mais de 50 anos, segundo o cacique Vherá Mirim, Cláudio Gimenez da Silva. O líder indígena de 28 anos conta que 34 famílias (185 pessoas, sendo 95 crianças) habitam o local rico em fauna e flora.
A reserva possui 283,6 hectares demarcados e homologados, porém a comunidade Guarani utiliza apenas 40 hectares e aguarda solução por parte dos órgãos federais para receber o restante da terra.
O significado dos animais para o povo Mbyá Guarani
- Águia – Significa coragem e força, uma visão de manter e lutar pelo território.
- Cobra – É quem mostra o caminho, o cuidado que o Guarani precisa ter onde vai pisar.
- Onça - Símbolo muito forte para o povo Mbyá. Ela é um guardião da natureza e proteção dos espaços.
- Coruja – É o mensageiro, avisa, à noite.
- Tamanduá – Aponta o território. Com o rabo em formato de árvore (copa para baixo), mostra que a natureza é de paz.
Serviço:
O QUÊ: Exposição Mbyá Guarani – estamos aqui!
QUANDO: 5 a 20 de abril, das 9h às 17h
ONDE: Parque Farroupilha, mais conhecido como Parque da Redenção (junto ao Monumento ao Expedicionário), em Porto Alegre
INGRESSO: Entrada livre
ABERTURA OFICIAL: 5 de abril (sábado), às 10h, com a presença do coral de crianças da aldeia Tekoá Jataí´ty