Toda forma de saber
Segundo a teoria das Inteligências Múltiplas, todo ser humano possui graus variados de cada uma das inteligências e diferentes formas de combinações entre si
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O menino não conseguia aprender as primeiras letras e a escola desistiu dele. Aconselhou os pais a perderem a esperança, pois seu filho nunca iria aprender. Mesmo no seio da família ele era considerado um “retardado”.
Só conseguiu ser alfabetizado depois dos nove anos de idade. Com graves dificuldades de memorização, perdia o interesse pelas aulas que exigiam tais habilidades. Do diretor de sua escola ouviu que “jamais iria servir para coisa alguma”.
Ainda bem que o menino Albert Einstein não acreditou no que pensavam a seu respeito e foi adiante. Em 1921 recebeu o Prêmio Nobel da Física por seus estudos sobre a teoria da relatividade e acabou consagrado como o mais célebre cientista do século 20. Mas, ao longo da vida, continuou com dificuldades para memorizar e se relacionar com pessoas.
Afinal, o que define a inteligência de um indivíduo?
Durante muitos anos compreendeu-se que a inteligência humana poderia ser medida de acordo com os resultados de testes de QI (coeficiente de inteligência), que avaliam basicamente a capacidade de raciocínio lógico.
Nos anos de 1980, a ideia de inteligência única começou a mudar graças aos novos conceitos desenvolvidos pelo cientista norte-americano Howard Gardner em sua Teoria das Inteligências Múltiplas (Frames of Mind, de 1983). Estavam lançadas novas luzes. Gardner apresentou vários tipos de inteligência e suas características. Segundo ele, já se nasce com as “inteligências”, mas elas precisam ser “acordadas” por meio de estímulos significativos.
O desenvolvimento de cada inteligência será determinado tanto por fatores genéticos e neurobiológicos quanto por fatores ambientais.
Educação individualizada
Einstein era um gênio matemático, Mozart um gênio musical, Shakespeare um gênio linguístico e Darwin um gênio naturalista, mas dificilmente um gênio será gênio em tudo.
Por outro lado, o estímulo adequado pode provocar o desenvolvimento das diversas inteligências em todos os seres humanos e, consequentemente, de habilidades e aptidões específicas.
Como múltiplas inteligências, Gardner identificou a Linguística, a Lógico-Matemática, a Espacial, a Musical, a Corporal-Cinestésica, a Interpessoal e a Intrapessoal.
Após novos estudos, acrescentou a inteligência Naturalista à sua lista original e mantém pesquisas sobre o que define como Inteligência Existencial ou Inteligência Espiritual. Outras formas de inteligência podem vir a ser identificadas para otimizar a teoria e sua aplicação.
Segundo o autor, todo ser humano possui graus variados de cada uma das inteligências e diferentes formas de combinações entre si. Ao entender o indivíduo como uma singularidade holística permite-se que ele aprenda e expresse seu saber de diferentes formas e exercite diferentes Inteligências.
Suas contribuições colaboram para o avanço de reflexões na educação. Gardner é autor de cerca de 20 livros que abordam essa questão de o ser humano possuir mais de um tipo de inteligência o que, por si só, indicaria que os processos de aprendizagem também deveriam ser individualizados.
Conforme a cultura
Gardner propõe que cada uma das inteligências tem sua forma própria de pensamento ou de processamento de informações, além de um sistema simbólico. Esclarece que jamais haverá uma lista única de inteligências humanas, mas sua teoria de Inteligências Múltiplas se propõe a captar uma gama razoável dos tipos de “competências” valorizadas pelas culturas humanas.
Há que se considerar ainda que o valor — maior ou menor — que uma sociedade confere a determinado tipo de inteligência está relacionado à sua cultura e ao tempo/espaço em que ela se manifesta.
Foto Vera Mari Damian
Na Índia, por exemplo, o desenvolvimento da inteligência Espiritual está impregnado na cultura desde o nascimento, diferentemente de outros países que cultuam prioritariamente a inteligência Lógico-Matemática.
Gardner mostrou de forma coerente que todos os seres humanos possuem diferentes tipos de mente e que pais e professores podem tornar possível uma educação personalizada.
Na imensa diversidade que existe em cada um, deve solidificar-se a certeza de que nenhum ser humano é perfeito em tudo, mas todos, absolutamente todos, possuem potencial de grandezas diversas e forças pessoais. Se devidamente reconhecidas, estas forças pessoais colocam a educação a serviço do integral desenvolvimento humano e da extrema grandeza da singularidade de sua mente.