Afinal, o que é felicidade?
“A satisfação de todos os nossos desejos não levaria à felicidade”
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Matthieu Ricard é um monge budista que reside no Nepal. Em 2012, pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, declararam que Matthieu Ricard era o homem mais feliz do mundo após uma série de experimentos. O grupo de cientistas constatou que o cérebro dele produz um nível de ondas gama nunca antes relatado no campo da neurociência.
O estudo revelou que, graças à meditação, ele tem uma capacidade incrivelmente anormal de sentir felicidade e uma propensão reduzida para a negatividade.
Em sua vida prática, Matthieu é fotógrafo, tradutor de numerosos textos budistas e autor de diversos livros, entre eles o best-seller O monge e o filósofo. Filho do renomado filósofo francês Jean-François Revel, Matthieu tem sido o intérprete em francês de sua Eminência o Dalai Lama e recebeu a Ordem Nacional Francesa do Mérito por seu trabalho humanitário no Oriente.
Em seu livro Felicidade, a prática do bem-estar, da editora Palas Athenas, Matthieu compartilha caminhos para “praticar” a felicidade.
Caminhos para praticar a felicidade
Confira algumas reflexões do homem mais feliz do mundo que o Nosso Bem Estar selecionou pra você:
Há mil formas de pensar sobre a felicidade e incontáveis filósofos ofereceram-nos as suas. Para Santo Agostinho felicidade é “a alegria que nasce da verdade”. Para Emmanuel Kant, a felicidade deve ser racional e desprovida de qualquer inclinação pessoal, enquanto Marx a vê como o crescimento pelo trabalho. “O que constitui a felicidade é uma questão a ser debatida”, escreveu Aristóteles.
Terá sido tão excessivo o uso da palavra felicidade que as pessoas desistiram dela, ignorando-a por causa das ilusões e chavões que ela evoca? Seria um reflexo da felicidade artificial oferecida pela mídia? O resultado dos insucessos de nossos esforços para encontrar a felicidade genuína?
A felicidade não pode se limitar a algumas sensações agradáveis, a um intenso prazer, a uma erupção de alegria ou a um efêmero sentimento de serenidade, a um dia animado ou a um momento mágico que passa por nós no labirinto da nossa existência. Essas diversas facetas não são suficientes para construir uma imagem precisa da realização profunda e duradoura que caracteriza a verdadeira felicidade.
A felicidade, como é tratada neste livro, é a profunda sensação de florescer que surge em uma mente excepcionalmente sadia. Isso não é meramente um sentimento agradável, uma emoção passageira ou uma disposição de ânimo: é um excelente estado de ser.
A felicidade também é uma maneira de interpretar o mundo, pois, se às vezes pode ser difícil transformá-lo, sempre é possível mudar a maneira de vê-lo.
A felicidade é o propósito da vida?
Seja qual for o modo usado para buscar a felicidade e qualquer que seja a palavra pela qual a denominemos – alegria ou dever, paixão ou contentamento – não é a felicidade a meta de todas as metas?
Aristóteles chamou-a de única meta “que sempre escolhemos por ela mesma e nunca como meio para alcançar outra coisa qualquer”. Qualquer pessoa que declare buscar outra coisa não sabe o que quer, pois está procurando a felicidade sob outro nome.
Imaginar a felicidade como a materialização de todos os nossos desejos e paixões e, sobretudo, concebê-la unicamente de modo egocêntrico, é confundir a aspiração legítima de realizar-se interiormente com uma utopia - que inevitavelmente leva à frustração.
O que é necessário para ser feliz?
Mesmo se a satisfação de todos os nossos desejos fosse possível, isso não levaria à felicidade, mas à criação de novos desejos ou a indiferença e a repulsa ou até mesmo à depressão. Se tivéssemos nos convencido de que a satisfação de todos os desejos nos tornaria felizes, o colapso dessa ilusão nos faria duvidar da própria existência da felicidade. Se eu tenho muito mais do que necessito e ainda assim não me sinto feliz, a felicidade deve ser inatingível.
O fato é que, sem paz interior e sabedoria, não temos nada do que é realmente necessário para sermos felizes.
A felicidade é um estado de realização interior, não a gratificação dos inesgotáveis desejos exteriores. Ao gerarmos uma felicidade autêntica, não fazemos mais do que revelar, ou despertar, um potencial que sempre tivemos dentro de nós.
Em resumo, o objetivo da vida é obter um estado profundo de bem-estar, sabedoria e plenitude em todos os momentos, acompanhado do amor por cada ser.
Não esse amor individualista que a sociedade nos incute, mas o amor verdadeiro, que surge da bondade essencial, e faz com que desejemos, de todo coração, que todos encontrem sentido em suas vidas.
Trata-se de um amor que está sempre disponível, sem ostentação ou interesse próprio. A simplicidade imutável do bom coração.
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