O legado da astróloga Dona Emy
A astrologia como ferramenta de autoconhecimento
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*Por Marly Winckler
Dona Emy, cujo nome completo era Emma Brepohl Costet de Mascheville, foi uma astróloga que viveu no Brasil e faleceu em 1981. Ela nasceu em Heimhausen, na Baviera, sul da Alemanha, e passou a infância em Monte Verità, na fronteira entre a Suíça e a Itália. Monte Verità foi um famoso centro de cultura alternativa no final do século XIX e início do século XX, frequentado por artistas, pensadores e idealistas que buscavam uma vida mais simples, próxima da natureza e em harmonia com o universo, fugindo da sociedade industrial.
Eles buscavam uma alternativa ao modo de vida convencional, que eles viam como insatisfatório, artificial e opressivo: acreditavam que a arte, a natureza e a vida em comunidade poderiam levar a um maior bem-estar humano. Eles promoviam um estilo de vida baseado em valores como simplicidade, igualdade, cooperação e liberdade individual.
Dona Emy foi capa da Revista Planeta, em 1975
Monte Verità: a busca por uma vida mais natural e equilibrada
Personalidades famosas frequentaram Monte Verità, como os escritores Hermann Hesse, Thomas Mann e Bernard Shaw, o psiquiatra suíço Carl Jung e a dançarina norte-americana Isadora Duncan entre outros.
Em 1889, os teósofos Alfredo Pioda, Franz Hartmann (1838-1912) e a condessa Constance Wachtmeister, já haviam desembarcado por lá querendo fundar um convento laico vegetariano com o nome de Fraternitás.
No Monte Verità, as ideias de Karl Gräser, que propunham a reforma de vida com base em Emile de Jean Jacques Rousseau e Tolstói, de que o homem deveria viver segundo seu próprio juízo, influenciaram o grupo. Eles adotaram uma série de práticas saudáveis, como yoga, vegetarianismo, a prática de exercícios físicos e a terapia pela arte. Acreditavam que a dieta vegetariana era uma forma de alcançar uma vida mais saudável e equilibrada. Adotavam outras práticas saudáveis, como o naturismo (viver em harmonia com a natureza, incluindo o nudismo), o uso de terapias naturais (como a hidroterapia, a aromaterapia e a acupuntura) e a meditação.
Alguns dos membros mais famosos do Monte Verità, como o escritor alemão Hermann Hesse, eram vegetarianos e defenderam publicamente o estilo de vida sem carne. O Monte Verità também abrigava um restaurante vegetariano, onde os visitantes podiam experimentar uma variedade de pratos vegetarianos e veganos. Hoje em dia, o Monte Verità continua sendo um local importante para aqueles interessados em história cultural, vegetarianismo, ecologia e espiritualidade. Os moradores de Monte Verità também eram conhecidos por suas crenças políticas progressistas e sua defesa de ideias como o pacifismo, o feminismo e o anarquismo.
Em suma, o ideário dos moradores de Monte Verità era baseado na busca por uma vida mais autêntica, natural e equilibrada, e incluía práticas saudáveis, ideias políticas progressistas e valores como simplicidade, igualdade e liberdade individual.
Contudo, a iniciativa não prosperou e em 1920, Ida Hoffmann, tia de Dona Emy, com quem ela vivia, e o marido Henri Oedekoven, os fundadores do Monte Verità se mudaram para Buenos Aires e depois para o Brasil.
Dona Emy no Brasil
Em Santa Catarina eles se estabeleceram na região do Palmital, em São Francisco do Sul, onde já havia outras comunidades do que hoje se chama ecovila, como o Falanstério do Saí.
O Falanstério do Saí foi uma tentativa de criar uma comunidade autossustentável baseada em princípios anarquistas e socialistas, liderada pelo médico homeopata francês Benoit Jules Mure. Foi fundado em 1890 e tinha como objetivo criar uma sociedade igualitária, sem a necessidade de um Estado e sem exploração ou opressão. O Falanstério do Saí contava com cerca de 200 pessoas, em sua maioria imigrantes franceses e italianos, que trabalhavam em conjunto para produzir alimentos, roupas e outras necessidades básicas. A comunidade tinha uma organização interna baseada em assembleias e decisões coletivas. No entanto, problemas de organização e conflitos internos, dificuldades financeiras, conflitos com a população local, problemas de saúde e a falta de adesão e comprometimento dos membros entre outros fatores levou ao fracasso do projeto em pouco tempo.
Dona Emy veio para o Brasil em 1925 e logo conheceu o futuro marido, o francês Albert Raymond Costet, conde de Mascheville, astrólogo, violinista e escritor, além de adepto do martinismo, filosofia inspirada no cristianismo esotérico.
Eles se casaram e viveram em comunidades esotéricas de Goiás e Santa Catarina antes de se estabelecerem em Porto Alegre, no início dos anos 1930. Dona Emy se dedicou ao estudo da astrologia, tendo calculado mais de 10 mil mapas astrológicos ao longo da vida. Ela ensinou astrologia para vários astrólogos gaúchos e publicou o livro Luz e Sombra em 1980, onde compartilhou seus conhecimentos sobre o tema. Ela acreditava que o estudo da astrologia era uma forma de autoconhecimento e de crescimento pessoal. Doze anos depois de enviuvar, ela se casaria com o astrólogo e egiptólogo Walter Pery Klippel.
Dona Emy faleceu em 1980, vítima de câncer, deixando um legado de ensinamentos na astrologia para as gerações futuras. Sua vida e obra são um exemplo de como é possível viver de acordo com suas crenças e interesses, buscando sempre o autoconhecimento e a evolução pessoal.
*Marly Winckler é presidente da União Vegetariana Internacional (IVU) ivu.org