Quantos amigos de verdade você tem?
Estamos desaprendendo, ou ficando preguiçosos, de fazer amigos
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As pesquisas da Harvard já demonstraram que são os bons relacionamentos que fazem as pessoas felizes. Pessoas sem amigos possuem o dobro de chances de adoecer. Outras pesquisas confirmam que ter amigos faz bem para a saúde física e mental.
Em 2022, a Folha de São Paulo divulgou que 25% dos brasileiros não se sentem próximo a ninguém, ou seja, não possuem nenhum amigo. O Governo Americano constatou que nos EUA, entre 1990 e 2021, aumentou em 400% o número de pessoas que declararam não ter nenhum amigo próximo. No Brasil também aumenta o número das pessoas que se sentem sozinhas, sendo este percentual maior entre os homens. Portanto, não é somente consequência da Pandemia.
Tentando entender este fenômeno, recorri aos grandes mestres. Aristóteles classificava a amizade em três categorias: segundo o prazer (a pessoa engraçada tem amigos porque os diverte), segundo a utilidade (relações do ambiente de trabalho, partidos, movimentos sociais, igrejas) e segundo a virtude (busca fazer o bem ao amigo), esta última é que ele chamava de amizade verdadeira.
Já Sêneca dizia que a motivação para ter um amigo não é para poder contar com ele quando precisar, mas para poder servi-lo quando ele precisar. A amizade se estabelece na abundância e não na carência.
Qualquer um de nós tem centenas ou milhares de amigos nas redes sociais, por que então se preocupar com este tema?
Porque as pessoas estão cheias de amigos virtuais e sozinhas na vida presencial. Na música “A Lista”, Oswaldo Montenegro canta “Faça uma lista de grandes amigos. Quem você mais via há dez anos atrás. Quantos você ainda vê todo dia. Quantos você já não encontra mais.”
Provavelmente muitos dos amigos de dez anos atrás estão apenas nas nossas redes sociais. Mesmo os que moram perto de nós, não mais os encontramos pessoalmente. Curiosamente, as redes sociais permitiram nos conectarmos com os que estão distantes e nos afastaram dos estão próximos.
Você ainda tem amigos de infância?
E aquela pessoa que era seu best friend, continua sendo? Tem amigos de longos anos? Hoje, quantas pessoas você considera amigo de verdade? Quais os critérios que você utiliza para considerar uma pessoa amiga de verdade?
Refletindo sobre estas questões, percebi que o critério que eu utilizava para considerar amigo de verdade era “aquela pessoa que posso contar para qualquer coisa em qualquer hora”, mas depois de ler as definições de Aristóteles e Sêneca, me dei conta de que eu estava pensando apenas na utilidade desta pessoa para mim. Que horror, né?
Eu tenho a sensação de que estamos desaprendendo, ou ficando preguiçosos, de fazer amigos. Amizade verdadeira dá trabalho sim, é preciso dedicar tempo para que a relação possa criar vínculos de confiança e reciprocidade.
É muito fácil chamar alguém de amigo do peito ou dizer que somos velhos amigos, difícil é ajudar o outro a crescer junto, tornando ambas pessoas melhores.
Talvez possamos considerar como um indicador de uma verdadeira amizade quando um se alegra com as conquistas do outro. Um segundo indicador seria, ao nos encantarmos com algo, lembrar da pessoa amiga e desejar que ela também possa viver e sentir o que estamos sentindo.
Não acredito que alguém deseje não ter amigos, mas sim que isto ocorra por um auto-isolamento involuntário. A pessoa não está bem com ela e, em vez de compartilhar seus sentimentos com os mais próximos, ela se isola, tenta resolver seus problemas sozinha. A solidão é um processo que chega lentamente, movido pela falta de intimidade e confiança e, quando a pessoa percebe, ela não tem mais amigos.
O poeta Mário Quintana dizia que a amizade é um amor que nunca morre. Eu discordo do Poeta, penso que assim como o amor, a amizade pode ter fim. Mas quando isto acontece, passamos por um processo muito dolorido, são pedaços de nós que se vão.
Feliz de quem conseguir manter amizades verdadeiras e ter pessoas de quem se sente próximo. Sei que não consigo cuidar de todas as minhas relações de amizades como gostaria, mas fico feliz com a interação que ainda consigo manter. Esta coluna é uma tentativa de comunicação semanal. E aos amigos que se já foram, sempre penso: “Qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar”.
– 30 de julho é o Dia Internacional da Amizade – receba o meu abraço adiantado.
Publicado originalmente no Sler