Precisamos regular a internet urgente
A tecnologia é ótima desde que seja usada de uma maneira razoável. Mas não foi o que ocorreu e encerramos 2024 com os “cérebros podres”
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Vamos lembrar que a internet, em seu início, tinha como propósito ampliar os limites e diversificar as perspectivas individuais ao permitir o acesso a informações diversas, facilitar o contato entre pessoas e otimizar tarefas, entre outras funções.
E fez maravilhas. Mas não só isso.
Os algoritmos, um sem número de novos apps e o uso comercial indiscriminado das plataformas digitais foram cooptando os navegadores de tal forma que chegamos ao final de 2024 com “cérebros podres”.
A expressão “brain rot” (cérebro podre) foi eleita pelo Dicionário Oxford, após ser escolhida por mais de 37 mil pessoas em votação pública. O termo “brain rot” faz referência à deterioração mental ou intelectual causada pelo consumo excessivo de conteúdos online triviais.
As redes sociais invadiram o cérebro dos usuários e estão modificando seu funcionamento para pior e cada vez mais rápido. É fácil constatar o que os neurocientistas apontam: a sobrecarga digital vem causando um declínio cognitivo, com perdas de atenção, memória, função executiva e linguagem.
Ler, então, nem pensar. Pesquisa do Instituto Pró-Livro, revela uma queda significativa no número de leitores no país, com uma perda de quase sete milhões de leitores nos últimos quatro anos. Durante esse período, os brasileiros – que despontam entre os maiores usuários da internet no mundo - abandonaram o hábito da leitura.
Os resultados apontaram que mais da metade da população brasileira - 53% - não leu sequer partes de um livro (impresso ou digital) nos últimos três meses de 2024 e 73% não completaram a leitura de um livro inteiro.
Pela primeira vez na história da pesquisa, a proporção de não-leitores superou a de leitores. Essa perda de consumidores de livros é registrada em todas as faixas etárias, classes sociais e níveis de escolaridade, com exceção das crianças de 11 a 13 anos e das pessoas com 70 anos ou mais.
Cigarros e internet
A Palavra do Ano de Oxford liga o sinal de alerta sobre como nossas vidas virtuais estão evoluindo, a necessidade de mudar a cultura da internet e de regulamentar seu uso, tanto em nível pessoal e doméstico, quanto em nível governamental, a fim de que as big techs não mais tenham a hegemonia de aplicação dos algoritmos aos seus interesses de mercado.
A importância de regulamentação de vícios já foi vivida no Brasil, acompanhada, é claro – de protestos. No passado o uso de cigarros era indiscriminado, gerando danos graves à saúde e uma conta que precisou ser paga por toda a sociedade. Em 2011, o Brasil gastou 21 bilhões de reais com o tratamento de pacientes com doenças relacionadas ao tabaco.
Nos anos 90 iniciaram-se campanhas contra o cigarro, mas o país só conseguiu, em poucos anos, reduzir em 38% o hábito de fumar, após iniciativas governamentais regulamentarem o uso, acesso e a propaganda de cigarro.
As empresas do ramo do tabaco protestaram veementemente, alegando o direito de livre comércio. Igualmente hoje, as big tech alegam que a normatização da internet é uma forma de cercear a liberdade de expressão. Mas este é um caminho que está sendo percorrido por todos os países do mundo – um a um, diante da constatação científica de que estamos mesmo ficando com os cérebros podres e criando gerações ainda piores.
Quem ainda não está convencid@, recomenda-se ler o livro A Fábrica de Cretinos Digitais, do neurocientista Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, que apresenta, com dados concretos e de forma conclusiva, como os dispositivos digitais estão afetando seriamente — e para o mal — o desenvolvimento neural de crianças e jovens.
As conclusões científicas trazem evidências palpáveis: pela primeira vez na história da humanidade os testes de QI (Quociente de Inteligência) têm apontado que as novas gerações são menos inteligentes que as anteriores.