Os 60+ reinventam o significado de viver

A galera que tem mais de 60 anos não só aposentou o trabalho, mas também o verbo “envelhecer”

Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento

31/03/2025
Os 60+ reinventam o significado de viver Freepik/NBE

3 min de leitura

Se não fosse pela reforma da previdência, eu já estaria curtindo minha aposentadoria, não sei onde e nem fazendo o quê. Mas quer saber? Gosto tanto do que faço que nem dá tempo de ficar chateado. Estou feliz com as escolhas que fiz e com o que a vida me entrega no delivery diário. Ainda tenho alguns anos pela frente até chegar esse momento. Tenho visto colegas saírem de cena – uns sorrindo de orelha a orelha, outros caindo no “abismo do tédio”. Uns poucos até enfrentaram depressão por falta de preparo, mas a maioria tá aí, mandando ver, se reinventando e vivendo de boas.

Outro dia, li um texto da jornalista e senadora argentina Sandra Pujol no qual ela fala de uma nova “tribo social”. Pasmem: a galera dos sessenta aos oitenta anos está roubando a cena. Esses ousados não só aposentaram o trabalho, mas também o verbo “envelhecer”. Porque, convenhamos, envelhecer não combina com os planos deles, que incluem mais aventura do que novela das oito.

Uma novidade social

Sandra até compara essa “novidade social” à invenção da adolescência no século passado. Naquela época, surgiu um monte de gente grande com crises de identidade e roupas estranhas. Agora, temos outra cena épica: sessentões, setentões e oitentões que estão curtindo a vida com mais pique que muito trintão sedentário por aí.

Inspirador mesmo é o Mujica, ex-presidente do Uruguai, que tem 89 anos e ainda esbanja sabedoria e simplicidade. Ele fala que a vida é uma baita contradição**: todo mundo sabe que vai morrer, mas a gente tá programado pra viver com garra.** Segundo ele, o segredo da felicidade é ter um propósito. Se não tiver, a sociedade de consumo te enrola e você passa a vida toda pagando boletos – e a felicidade vira brinde que nunca chega. Para Mujica, vencer na vida é cair, levantar e recomeçar. E recomeça tanto que, de vez em quando, acerta e sai vencedor.

E olha só, que delícia: os 60+ aposentaram o pijama de bolinha e mandaram o “descansar em paz” pra longe. Hoje, a aposentadoria tem outra vibe. Tem gente viajando, pintando, aprendendo ukulele, explorando o ócio sem culpa e curtindo o saldo bancário – ou a falta dele, mas sempre com estilo.

Essa galera sabe pilotar celulares, tablets, computadores, lê no Kindle e conversa com “Alexas”. Alguns até precisam de uma ajudinha do sobrinho, mas logo estão nos grupos de WhatsApp mandando memes, emojis e “bom dia, grupo!” às 6 da manhã. Eles escrevem, visitam filhos que estão longe, lotam cafeterias, aprendem coisas novas e, pasmem de novo, estão se apaixonando outra vez – seja por pessoas, seja por hobbies.

A grande sacada? Eles não sentem saudades da juventude porque já viveram e sabem que lá tinha muitas quedas. Da vida profissional ficaram as boas lembranças. Agora, com a saúde que têm, querem se divertir. A diferença entre eles e as crianças? Basicamente, o preço dos brinquedos. Antes era pipa e boneca; agora é motor home, curso de cerâmica e viagens para destinos que nem o Google Maps sabia que existiam.

Se você já tá nesse barco ou tá quase embarcando, bem-vindo à tal “idade sem nome”. Pode vir tranquilo que, aqui, a palavra de ordem é: viver de verdade, com direito a sorrisos no espelho, novos planos e, por que não, um novo crush. Para esse povo, o melhor da vida começa no pós-aposentadoria!

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Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento é professor na escola de Administração da UFRGS.

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