O que é isso, minha amiga?
Daniel Pádua me dizia: vamos errar muito, vamos errar todo dia e, sempre que possível, vamos errar em coisas novas!
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"Como você é burra, Nanda!" - eu disse para mim mesma, em voz alta, faz algumas semanas. E prometi que aquela seria a última vez. Na verdade, eu já me disse isso incontáveis vezes ao longo da vida e coisas beeeem piores também.
No entanto, naquela manhã, ao ouvir minha voz tacanha, uma outra parte de mim, que considero mais virtuosa, resolveu retrucar: ok, você está chateada porque pegou dois retornos errados e irá se atrasar para um compromisso. Mas, Nanda, você nunca chamou nenhuma pessoa de burra, então por que tratar a si própria desta maneira?
O fato é que não pude achar nenhuma resposta razoável para esta pergunta. Isso ficou repercutindo em mim ao ponto de eu chegar em casa e fazer uma lista de todas as coisas horríveis que eu costumo me dizer quando me sinto frustrada por algum erro que cometi - ou acho que cometi.
Depois li e reli a lista. Foi bem chocante. Para resumir, vou dizer apenas que me senti uma verdadeira carrasca. Percebi o quanto me julgo, me sinto aquém das minhas capacidades e considero uma pária, deslocada no mundo. Mas não me culpei. Realmente resolvi dar um basta nesta história ali mesmo, sabe?
Desde então estou fazendo o exercício constante de ser mais minha amiga e me dizer frases de incentivo e encorajamento. Nunca havia me dito, por exemplo, "como você é inteligente, Nanda!". Ainda que soe um pouco esquisito este tipo de autoelogio, posso dizer que recomendo a todas, pois os efeitos são, deveras, positivos.
Tenho buscado também compreender as origens desta minha voz interna que me diz que estou errada e fora do lugar. Encontro ecos na minha primeira infância e busco acolher estas vivências como parte fundamental da pessoa que sou. Um mergulho que serve, principalmente, para me ajudar a identificar as versões de mim que não quero mais alimentar. É um voto de desapego à autoimagem.
Nestas horas, lembro de um adorado amigo que se autointitulava "ativista do erro". Daniel Pádua me dizia: vamos errar muito, vamos errar todo dia e, sempre que possível, vamos errar em coisas novas! Meu amigo partiu cedo demais deste plano, mas me deixou este (e muitos outros) ensinamentos preciosos: com ele sigo aprendendo que eu posso errar. Eu devo errar. E mais: eu quero errar!
Agora, nesta nova compreensão de mim, antes de sair metralhando autocríticas pesadas, tenho buscado me acolher e me perdoar. Não tem sido simples. Tem uma vozinha interna que gosta de se impor: "será que você não está caindo na auto indulgência e no coitadismo?". Não, não estou. Estou apenas me dando um desconto, minha amiga interna tem respondido.
Sei bem que a característica básica das pessoas exigentes é que elas sempre acreditam que estão se cobrando de menos. Não fujo à regra. Então, tenho buscado pensar que estou apenas oferecendo a mim própria o que costumo ofertar para as minhas amigas e amigos quando eles tropeçam na vida: acolhimento e honestidade, basicamente.
Quero dizer com isso que estou experimentando um lugar novo para mim: onde posso realmente relaxar, me aceitar e me amar num nível mais profundo. Eu já sabia disso tudo na teoria. Mas manter este olhar mais atento de amizade e companheirismo comigo está sendo muito libertador.
Sei que tenho uma longa estrada pela frente, mas de mãos dadas comigo o caminho tem sido mais bonito.