Ainda não estamos prontos
Os efeitos climáticos da nova dinâmica ambiental estão aí e, agora, o tempo disponível para agir é menor

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Há tempos fala-se na chegada de dias em que os impactos ambientais sofridos pelo planeta finalmente viriam cobrar sua parte, causando mudanças profundas no padrão de vida da raça humana.
Reiterados alertas sobre aquecimento global, crise climática e mudanças planetárias impactantes têm sido dados há anos, décadas. Mas o comodismo, o ceticismo, o egoísmo e, por que não dizer, o capitalismo pesaram mais nas ações (e na falta delas).
Agora, o tempo disponível para agir é menor. O dia se aproxima mais rapidamente e ainda não estamos prontos.
Muitos lugares já sentem os efeitos climáticos da nova dinâmica ambiental. E ainda não estamos prontos. Enchentes históricas, recordes de temperaturas, grandes perdas na atividade agropecuária, grandes danos em estruturas urbanas. E ainda não estamos prontos. Perda de vidas, deslocamentos forçados, refugiados ambientais.
E ainda não estamos prontos.
Desastre no Rio Grande do Sul
Após quase um ano da maior enchente da história do Rio Grande do Sul, estruturas grandes e importantes apenas agora mostram-se completas. Nem todas, ainda. Sobre as estruturas menores, melhor nem falar: estradas de interior, encostas de morros inteiros, pontes que ligam pequenas comunidades, pequenos córregos que, assoreados, transformam-se em furiosos rios caudalosos, levando destruição e medo aos moradores locais.
Solos empobrecidos, locais em que o plantio já não é viável, lugares em que as pessoas não querem ou não podem mais morar. Mudanças profundas nas cidades. E se acontecer de novo? Ainda não estamos prontos.
O aspecto psicológico, igualmente castigado, mal começou a ser considerado na equação. Crianças traumatizadas, adultos preocupados, idosos que jamais tinham visto tempos assim. A nuvem escura no céu preocupa, gera medo, traz preocupação e até pânico.
A contenção vai resolver? O dique novo irá aguentar? Será que o reforço na ponte será suficiente? Até onde a água chegará? De onde tirar forças e meios para recomeçar se perder tudo de novo? Ainda não estamos prontos.
O calor parece infinito. Mesmo quem gosta, reconhece: está demais. E também está desregulado. Às vezes, faz calor quando deveria estar frio e vice-versa. Clima descompensado, beirando o imprevisível. Não há certezas, além da mudança contínua. Que lugar é seguro? Subir o morro para fugir do rio? Mas o morro pode descer, desmoronar, soterrar. Melhor na cidade grande ou nas pequenas? Estar longe do socorro ou estar em meio a uma multidão pedindo ajuda? Nada parece bom. Ainda não estamos prontos.
Mesmo assim, segue a vida. Acordar, trabalhar, descansar. Rir, divertir-se, passear. Comprar, pagar, planejar. Amar, viver. Não pensar demais. Nem de menos. Estar atento e preparado. Saber que pode acontecer de novo. Cobrar dos responsáveis. Ajudar no que puder. Confiar na providência divina. Ainda não estamos prontos.
Precisa de mais lugares para abrigar desabrigados, deslocados, refugiados, feridos, desesperados. Precisa rever estruturas, não repetir erros. Precisa pensar em alternativas, estratégias, fazer planos de contingência, de mitigação, de retirada, de retomada, de salvamento.
Ao mesmo tempo em que não se quer pensar (queira Deus que nunca mais aconteça!), também é urgente pensar e repensar. Um novo El Niño desponta no horizonte.
Ainda não estamos prontos. Mas precisamos estar. Para logo.