A árvore ou a vida?
Agapan é uma das entidades ambientalistas pioneiras no mundo e sua trajetória está ligada à história de uma árvore

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Há 50 anos, Carlos Dayrell subia numa árvore Tipuana na Avenida João Pessoa, em Porto Alegre, para evitar seu corte. A Agapan – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente natural - existia já há quatro anos, mas foi neste ato que a luta ambiental se popularizou no Brasil.
Diferente das organizações conservacionistas que já existiam desde o Império no Brasil, a Agapan, fundada em 26 de abril de 1971, trazia desde seu nascimento o questionamento sobre a forma de viver da civilização ocidental no planeta.
Era um momento terrível da ditadura militar, onde a mídia era cerceada através de censura prévia nas suas publicações e a luta ambiental, recém com quatro anos de vida, ainda não tinha sido identificada como subversiva pelos golpistas militares. Neste ato simples de preservação de uma árvore, começou a ser identificado o perigo que a questão ambiental trazia para o poder vigente.
Os resultados imediatos foram a prisão dos estudantes que subiram na árvore e de jornalistas que estavam apoiando. A reação dos militares não ficou só nisso, os ambientalistas passaram a fazer parte dos temas censuráveis, a mídia que nos dava espaço diariamente - até porque tinha dificuldade de encontrar matérias para publicar em função da censura - reduziu radicalmente esse espaço, na medida em que os censores passaram a identificar os temas ambientais e proibir suas publicações.
Por outro lado, não podemos subestimar os efeitos de uma pequena ação no momento histórico certo, um fato que foi publicado em várias mídias do mundo, como, por exemplo, na revista Times.
Avanços e retrocessos
Meio século atrás, deixava-se de discutir eventos isolados e se começava a pensar que o próprio projeto civilizatório estava falido. Foi um momento lindo na história da humanidade. Isso ocorria aqui no Rio Grande do Sul também e, com a divulgação do episódio da Tipuana, passamos a receber cartas de todo o país e de outros países pedindo ajuda para criar suas próprias organizações.
Para situar no mundo, alguns meses depois da Agapan surge o Greenpeace, só que não com ideias ambientalistas, mas ainda sob o signo do conservacionismo de baleias. Demoraram muitos anos para que, em nível internacional, surgissem entidades ambientalistas ou que entidades conservacionistas fossem aos poucos ampliando sua visão e atuação para a questão maior, que é o nosso modelo de desenvolvimento, nosso estilo de vida suicida e insensato.
Cinquenta anos depois ainda elegemos deputados e vereadores que não têm a compreensão do que é desenvolvimento, nem qualidade de vida e, por essa razão, estão destruindo as leis ambientais, sem as quais talvez nem estivéssemos aqui.
A maioria dos legisladores brasileiros trabalha para os grandes interesses que financiam suas campanhas e não para os que votaram neles. Temos que aprender a acompanhar as votações dos políticos que elegemos.
Esses 50 anos de história deveriam nos alertar ao fato de que precisamos não só falar, mas tomar atitudes concretas e fazer coisas para frear a destruição de nossa espécie humana. Se nada fizermos, o fim estará próximo e com muito sofrimento associado a ele.